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OS PROPÓSITOS DE DEUS.

Muito se fala em propósitos de Deus, mas é difícil entender que propósitos seriam estes frente a grandes tragédias. Porém, a culpa não é Dele. Porque deveria ser simples entender que começamos a morrer assim que nascemos e que, a qualquer momento de nossas curtas e frágeis vidas, podemos ir embora.  Uns se vão com meses de vida, outros fecham seu ciclo em uma centena de anos, mas como entender a lógica celestial para administrar o fôlego de vida que recebemos? Ainda assim, ficamos consternados quando qualquer um dos nossos se vai. Qualquer um.

Pouca coisa  pode soar tão absurda quanto ter  que enterrar um filho. Pessoas que passam por esta dolorosa experiência muitas vezes parecem inabaláveis e conformadas, mas por dentro estão destruídas, mutiladas, como se houvessem perdido uma perna ou um braço. 

E como preferiam ter perdido um membro do corpo do que um filho... Elas continuam de pé,  firmes, ou se contorcem da dor da alma, não importa.  O sofrimento é mesmo imenso e inimaginável.

Tememos a morte e tememos ainda mais a morte dos que nos são próximos. Lamentamos profundamente não ter dado um último abraço, não ter dito um último “eu te amo”, não ter se despedido. Mas também, jamais abraçamos tão forte quanto deveríamos ter feito. Nunca declaramos nosso amor fervorosamente e, principalmente, nunca, jamais nos despedimos. Justamente porque esperamos que aquele abraço fortuito, aquela palavra gratuita, aquele adeus esperançoso, não seja o último. Somos  um pouco covardes. Trememos tanto de pavor diante da possibilidade de perder nossos entes queridos,  que tentamos perde-los um pouquinho a  cada dia.

Não conseguimos mesmo entender os propósitos de Deus. Mas entendemos muito bem a dor  alheia porque tememos que, um dia, a dor  daquela pessoa seja a nossa dor também. Conseguimos facilmente nos solidarizar com quem está sofrendo.  Somos capazes de abraçar um desconhecido, confortar um estranho, até mesmo cumprimentar respeitosamente os nossos inimigos, oferecendo-lhes uma trégua mediante a consternação.  Ofertamos nossos ombros e lamentamos de uma forma raramente sincera as perdas de cada um. Talvez, esteja aí a resposta para nossos questionamentos a respeito da vontade divina. Porque, só na dor  somos todos um só, como raramente seríamos na alegria.

(Para Lidiane Santos, com carinho.)

Comentários

Unknown disse…
Que texto maravilhoso... só na dor é que chega a união!

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