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DE PRIMA: 3 GRANDES DISCOS DE ESTREIA.

Os primeiros discos da carreira, muitas vezes, são peças quase que decorativas na discografia de algumas bandas. No caso de outras, é essencial para justificar a importância do artista. Aqui, três exemplos de primeiros discos que foram decisivos para sedimentar o prestígio e a reputação dos seus autores:



THE KNACK - Get The Knack (1979) - A dupla de produtores ingleses Nick Chinn e Mike Chapman foram responsáveis por alguns dos melhores momentos do rock desavergonhadamente descompromissado nos anos 70. Entre os artistas produzidos pela dupla, estão Sweet, Suzy Quatro e Gary Glitter, que foram os maiores expoentes do rock enérgico moldado pelos dois. Quando o duo se separou, o primeiro álbum assinado apenas por Mike Chapman foi o disco de estreia da banda americana The Knack

Formado por músicos de estúdio que mantinham uma pub band quase por brincadeira, The Knack gravou,  por incentivo de Chapman. O produtor não se conformava de ver o desinteresse dos integrantes em levar à sério a carreira do grupo (que, diga-se de passagem, até então nem nome tinha), enquanto executavam brilhantemente suas covers e canções autorais.

Empurrados ao estúdio para registrar suas próprias músicas, eles pariram o single de My Sharona, que é considerado por muitos o pontapé inicial da New Wave (mas não foi, porém isto é uma outra história). O sucesso tremendo daquela canção, energicamente executada por músicos brilhantes que não tinham quase nenhuma relação com o minimalismo punk, suscitou logo a desconfiança de que eram apenas uma armação da indústria fonográfica, o que não era, de forma alguma, a verdade.


A forte influência dos Beatles e de outros grupos sessentistas está presente em todas as faixas de Get The Knack. Diferentemente do The Police, em que músicos de excelente qualidade tentavam desesperadamente se passar por ineptos, The Knack nunca se preocupou em mascarar a qualidade musical de seus integrantes. Justamente isto fez com que a imprensa especializada sempre olhasse o grupo com muita má vontade. Hoje, quase 25 anos depois, o álbum permanece atualíssimo. O sucesso de My Sharona, porém, nunca mais seria repetido.



THE CURE - Three Imaginary Boys (1978) - Em 1978, o cenário musical inglês já apresentava um certo cansaço da explosão punk do início do ano anterior. A banda Easy Cure, um quarteto formado por garotos de idade entre 15 e 17 anos, não fugia à regra vigente e seguia fielmente a cartilha escrita pelos Sex Pistols dois anos antes. O grupo já havia tentado um contrato com a gravadora alemã Hansa, mas foram recusados por soarem bastante parecidos com a banda de Joãozinho Podre. O fato rendeu até uma canção, Do The Hansa, em que eles marotamente invertem a história.


No final de 78, o produtor Chris Parry, da gravadora Polydor, recebeu a demo de "Killing An Arab" e imediatamente marcou uma audição. Impressionado com o que ouvira, Parry contratou o, agora, trio imediatamente, pedindo que o grupo mudasse de nome, passando a se chamar apenas The Cure e desse maior atenção à sua já notável vertente pop. Estava inventado o estilo que viria a ser rotulado grosseiramente pela imprensa de pós-punk. O single não chegou aos primeiros lugares quando foi lançado mas abriu espaço para a gravação de um LP no início do ano seguinte. 


O disco, brilhantemente batizado de "Three Imaginary Boys", trazia como novidade um certo descontentamento radical, herdado do movimento punk, entupido de instantâneos da vida emocional de um típico adolescente inglês. O vinil é recheado de canções com riffs hipnóticas, muito influenciado pelos grupos psicodélicos dos anos 60, onde cada música parece ter vida independente. "Foxy lady", uma precária versão do clássico de Jimi Hendrix, é a exceção à regra. Quase uma paródia, parece perdida em meio à faixas que namoram a perfeição.


Em 80, "Three Imaginary Boys" saiu nos Estados Unidos com outra capa, outro nome e algumas faixas que só haviam saído em single na Inglaterra. A adição de Boys Don't Cry, uma emocionante pérola pop, supremo clássico dos anos 80, e Jumping Someone Else's Train, entre outras, deu à edição norte-americana um aspecto ensolarado que não havia na versão européia, fazendo com que, mesmo contendo muitas faixas em comum, os dois títulos parecessem discos completamente diferentes.



The Strokes - Is This It (2000) - Quando o single de Last Nite saiu, em meados de 2000, o mundo do rock parecia mergulhado na pior crise que se abatera sob este gênero musical desde que os grupos psicodélicos dos anos sessenta passaram a se levar à sério demais e se transformaram nos progressivóides dos anos setenta. Da mesma forma, os punks e pós-punks dos anos 80 viraram bandas que tentavam desesperadamente soar como os Byrds, regurgitando o som que Tom Petty e o REM tão bem souberam emular na década anterior. 


Neste cenário, o surgimento de um grupo como os Strokes seria revitalizador. No ano seguinte, o CD Is This It viria a confirmar o epíteto de salvação do rock, desta vez, merecidamente, dado a eles. Sem nada que sequer se assemelhasse a uma canção de andamento lento, o disco não só foi uma grata revelação, como também abriu espaço para o reconhecimento de muitas outras bandas mais "pesadas".

Formado por garotos bem-nascidos da cidade de Nova York, eles ouviram muito os grupos da cena nova-iorquina da década de 70 e, no melhor estilo Do It Yourself, eles pouco ou quase nada sabiam tocar antes de formarem o grupo. A precariedade musical é amplamente compensada pelas ótimas composições e, assim como Nevermind do Nirvana, este disco só deverá ter sua importância reconhecida de verdade a partir da segunda metade desta década.







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