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Eu odeio os haters.

Não faz muito tempo, uma dançarina de funk,  de quem eu nunca tinha ouvido falar antes, foi assassinada brutalmente pelo próprio marido com dez coronhadas e cinco tiros no rosto.  Amanda Bueno,  a vítima,  sofreu um linchamento moral nas redes sociais que só não foi pior mesmo que a sua trágica morte.

A agressão pública à moça após o seu falecimento  foi promovida pelos mesmos tipos de sempre.  Gente disposta a  enfiar o dedo na ferida dos outros sem a menor piedade, certas da impunidade e anonimato. Estas pessoas são conhecidas na internet como “haters” (odiadores) e, pelo menos duas delas,  que teceram comentários absurdos sobre  a dançarina,  foram localizadas e chegaram a ser inquiridas pelo programa CQC.  Claro que todo aquele ódio virtual se esvaneceu em vergonha, pedidos de desculpas e tentativas débeis de explicar o inexplicável.

Falando em televisão, já imaginou se os canais abertos de TV  oferecessem a possibilidade de seus telespectadores emitirem  comentários instantâneos e não moderados  sobre  o que está indo ao ar?  Certo que alguns canais meio que já oferecem esta possibilidade, publicando comentários feitos pelas redes sociais, mas eu falo de ir ao ar absolutamente todo comentário que é feito, sem nenhuma  espécie de moderação.  Com certeza, veríamos aparecer na tela todo tipo de frases grosseiras a todo instante.

A pergunta que não se faria calar seria qual a razão daquelas pessoas simplesmente não desligarem a televisão ou mudarem de canal,  em vez de bombardear a emissora com suas reclamações grosseiras e superficiais? A pergunta que não quero fazer calar é porque algumas pessoas insistem em fazer comentários grosseiros em sites da internet sem em nenhum momento pensar em simplesmente deixar de segui-los.  E, principalmente, qual a razão de se destilar tanto ódio contra alguém que nem conhecemos?

Seções de cartas ou de comentários sempre representaram uma das partes mais interessantes de uma publicação escrita.  Pelo menos, eu sempre gostei de lê-las.  A partir delas,  sabíamos a opinião do leitor sobre tal assunto e podíamos compará-las às nossas. Também podíamos ,  nós mesmos,  nos fazer ouvir e emitir as nossas próprias opiniões.  O anonimato dos primeiros tempos de sites e blogs na internet trouxe à tona esta figura do “hater”, um  tipo que odeia por odiar, argumentador frágil, cujos comentários muitas vezes descambam para a grosseria absoluta.  Com o passar do tempo, foram introduzidos mecanismos para identificar os comentaristas maldosos mas,  ainda assim, os tais haters não aliviaram.


O perfil psicológico dos “haters”   poderia ser tema de uma tese de doutorado,  mas nem é disto que este texto trata.  Se trata do cansaço de ver naufragar a boa discussão, a troca de conhecimento, o  soçobrar das novas amizades virtuais a partir da semelhança e até mesmo da diferença de opiniões.  Os bons comentaristas estão cada vez mais receosos de tecer seus comentários internet afora. E, por bom comentarista entenda-se aquele que tem bons argumentos, é gentil e sabe aceitar opiniões diferentes das suas, não importa qual opinião ele tenha.  Gente assim está cada vez mais raro de encontrar.








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