Pular para o conteúdo principal

Porque não financiar a Wikipedia.

Quem precisou consultar a Wikipedia ontem deu de cara com um anúncio em letras garrafais, um pedido quase desesperado por doações.Eis o texto, na íntegra:

"Queridos leitores, vamos direto ao assunto: Hoje pedimos que você ajude a Wikipédia. Para proteger a nossa independência, nunca iremos publicar anúncios. Nós sobrevivemos de doações de cerca de R$25. Apenas uma pequena porção dos nossos leitores doarão. Agora é a hora que pedimos. Se todos lendo isso agora doassem R$10, a nossa arrecadação de fundos terminaria em uma hora.Se a Wikipédia lhe tem sido útil, pedimos que dedique um minuto para mantê-la online e livre de publicidade. Nós somos uma pequena organização sem fins lucrativos com custos inerentes a um website de ponta: servidores, colaboradores e programas. Servimos milhões de leitores, mas funcionamos com uma fração do que os outros sites gastam. A Wikipédia é muito especial. É como uma biblioteca ou um parque público, onde todos podem ir para aprender. A Wikipédia é escrita por uma comunidade de voluntários com paixão por compartilhar o conhecimento do mundo. Ajude-nos a terminar rapidamente esta campanha, para podermos nos dedicar novamente a melhorar a Wikipédia. Obrigado".


A questão que eu levanto aqui é: porque os usuários precisam necessariamente financiar a Wikipedia em um meio - a web - onde, tradicionalmente, nada é financiado pelo usuário? Sem querer, em momento algum, desdenhar da importância inequívoca deste site, até que ponto é realmente preciso defender a sua independência, através da não publicação de anúncios? Pela sua própria natureza, a Wikipedia é de uma independência bastante "dependente" já que é alimentada basicamente por pessoas interessadas em criar uma imagem positiva de si mesma ou das entidades que representa O fato da Wikipedia.org ser realmente uma organização sem fins lucrativos não nos faz compulsoriamente seus financiadores. Melhor seria que ela publicasse anúncios seletivos do que nos incumbir do ônus da sua sobrevivência. Como usuário frequente eu mesmo me comprometeria a não bloquear seus anúncios.


Se a Wikipedia é tão barata de se manter quanto afirma ser, seria muito mais interessante ainda que aceitasse anúncios. Afinal, não seríamos obrigados a fechar janelas e mais janelas ao sermos bombardeados por toda sorte de publicidade como acontece em outros sites.

A Wikipedia perde uma boa chance de mostrar ao restante da internet, aquela parte que é financiada por anúncios, como poderia ser administrar um site onde a publicidade é honesta, justa, pertinente e não aborrece o usuário. Ao invés disto prefere aquele velho e ultrapassado discurso meio esquerdista da independência, de como é vil aceitar anúncios, blá, blá, blá.

Eu reconheço a suma importância da Wikipedia. Aliás, para dizer a verdade, é até difícil imaginar a internet sem ela. Mas também, por exemplo, reconheço a importância, ainda que bem menor, da Desciclopédia, o site-paródia dela, e nem por isto, pretendo financiá-los. Está na hora da Wikipedia dar um passo à frente e parar de pedir esmolas. O site não precisa disto. Ao invés de doar, quero ver anúncios enquanto navego. E meu compromisso, aliás, de todos os usuários, deve ser não bloquear seus anúncios e, se possível, até clicar nos quadros de publicidade. Agora, dinheiro vivo, sinto muito, não vou doar não.

A Wikipedia, a despeito de ser um site aberto, é uma enorme fonte de conhecimento. Falta apenas ser também uma fonte de sabedoria. Que venham os anúncios. Sei que a fundação Wikipedia saberá lidar exemplarmente com eles e, mais uma vez, será um exemplo de boa conduta para o resto do mundo.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A CARTA ANÔNIMA

 Quando eu era menino, ainda ginasiano, lá pela sexta série, a professora resolveu fazer uma dinâmica bastante estranha. Naquele tempo ainda não tinha esse nome mas acho que ela quis mesmo fazer uma dinâmica, visto pelas lentes dos dias atuais. Ela pediu que cada aluno escrevesse uma carta anônima, romântica, se declarando para uma outra pessoa.  Eu confesso que não tive a brilhante ideia de escrever uma carta anônima para mim mesmo e assim acabei sem receber nenhuma carta falando sobre os meus maravilhosos dotes físicos e intelectuais. Já um outro garoto, bonitão, recebeu quase todas as cartas das meninas da sala. E sabe-se lá se não recebeu nenhuma carta vinda de algum colega do sexo masculino, escrita dentro de algum armário virtual. Eu, é claro, escrevi a minha carta para uma menina branca que nem papel, de óculos de graus enormes e um aparelho dentário que mais parecia um bridão de cavalos. Ela era muito tímida e recatada, havia nascido no norte europeu mas já morava...

O SONHO

  Oi. Hoje eu sonhei contigo. Aliás, contigo não. Eu sonhei mesmo foi comigo. Comigo sim, porque o sonho era meu, mas também com você, porque você não era uma mera coadjuvante. Você era a outra metade dos meus anseios juvenis que, quase sexagenário que sou, jamais se concretizaram. Não que a falta de tais anseios me faça infeliz. Não faz. Apenas os troquei por outros, talvez mais relevantes, talvez não. Hoje de madrugada, durante o sonho, eu voltava a ter 20 anos e você devia ter uns 17 ou 18. Eu estava de volta à tua casa, recebido por você em uma antessala completamente vazia e toda branca. Branca era a parede, branco era o teto, branco era o chão. Eu chegava de surpresa, vindo de muito longe. Me arrependia e queria ir embora. Você  queria que eu ficasse, queria tirar minha roupa ali mesmo, queria que eu estivesse à vontade ou talvez quisesse algo mais. Talvez? Eu era um boboca mesmo. Você era uma menina bem assanhadinha, tinha os hormônios à flor da pele e eu era a sortuda ...

Porque não existem filas preferenciais nos EUA.

Entrei em contato com um amigo norte-americano que morou por muitos anos no Brasil e o questionei sobre a razão de não haver filas preferenciais nas lojas norte-americanas. Ele me respondeu que não havia apenas uma mas várias razões. Uma delas é legal, porque é anticonstitucional. A enxutíssima constituição dos Estados Unidos simplesmente proíbe que determinado grupo social tenha algum direito específico sobre outro. Ou todos têm ou ninguém tem. Então, lhe questionei sobre as ações afirmativas na área de educação. Ele me respondeu que as ações afirmativas seriam constitucionais porque serviriam justamente para nivelar um grupo social em desigualdade aos outros. O que não seria, segindo ele, o caso de gestantes, idosos e deficientes físicos. A segunda razão seria lógica e até mesmo logística: Uma fila preferencial poderia ser mais lenta do que a fila normal e acabar transformando um pretenso benefício em desvantagem. Isto abriria espaço para ações judiciais no país das ações judic...