Pular para o conteúdo principal

Porque não ter uma banda de rock depois dos 30.

Ter uma banda de rock deveria ser absolutamente proibido para maiores de 18 anos. A não ser, claro, ter uma banda de rock amadora, de garagem, feita exclusivamente para a diversão. Ainda assim, deveria ser proibido às bandas deste estilo, mesmo que as amadoras, mudanças na formação original após a maioridade de seus integrantes.

Claro, não é literalmente isto que eu quero dizer. Óbvio que, às bandas de rock, absolutamente nada deveria ser proibido. O que eu afirmo é que agrupamentos roqueiros só deveriam ser formados por integrantes jovens e amigos entre si. Porque só a paixão pela música não é suficiente para que uma banda de rock se manter unida. É preciso, antes de qualquer outra coisa, amizade. Talvez, dinheiro, em alguns casos específicos. Mas sem amizade, até o dinheiro é esquecido.

Já toquei em muitas bandas de rock ao longo de meus quase 49 anos de idade. Aliás, toco desde os 13, quando formei, com amigos do ginásio, a banda Shirts Pants,, ainda em 1979. Eu tocava bateria nesta época. O nome, Shirts Pants, que soava bem para caramba, mas a gente não fazia a mínima ideia do que significava, foi tirado de uma sacola de uma loja de roupa. A loja se chamava "Dr. Jeans" e, soubemos depois, shirts e pants eram nada mais que os produtos que a boutique vendia. O som da Shirts Pants era, por um lado,  fortemente influenciado pelo hard-rock do Kiss, Slade e, por outro lado, por grupos de funk - não o carioca, no caso o verdadeiro - como o Con Funk Shun e o Brass Construction. Mas o "hit" era mesmo uma versão muito particular de "Souvenirs" do grupo de disco-music francês Voyage. De fato, adoraria ouvir hoje em dia como soávamos naquele tempo, mas nada ficou gravado.

O nome em inglês durou até 1981, quando a chegada de novos integrantes e o fortalecimento da música brasileira praticamente nos obrigou a cantar em português - isto, claro, como se soubéssemos inglês. Trocamos de nome para Baba de Boi, nos aproximamos do som de artistas como os Novos Baianos e A Cor do Som, nos apaixonamos pelos grupos da nova MPB que tocavam no teatro paulista Lira Paulistana. Mas, então, o punk chegou atrasado no Brasil e varreu tudo como um furacão. Formamos então os Parasitas, basicamente com os mesmos integrantes do Baba de Boi.

Dos Parasitas, passei para os Macacos Hurbanos, que depois deixaria de ser punk para abraçar o hard rock e mudar mais uma vez de nome para Vício. O Vício se esfacelou em 1983 e aproveitei para mudar, desta vez também de instrumento e de estilo: Tocando guitarra, formei minha primeira e única banda de heavy-metal, o Guerra Civil. Mas heavy-metal não era a minha praia, de fato, e a banda de metal virou new-wave na primeira oportunidade e se tornou o Censura Prévia, que, com a chegada do pós-punk, virou Uniforme. O fim do segundo grau acabou com nossos sonhos roqueiros. Cada um foi para um lado e continuamos todos amigos e saudosos daqueles tempos. Brigávamos? Claro que brigávamos. Mas nenhuma briga durava até o ensaio seguinte.

Estas são as bandas das quais sinto saudades. O que veio depois não era mais aquela junção natural de amigos, que antes de serem músicos, eram amigos, e sim, uma reunião de músicos que nem sempre eram exatamente amigos.

Estimulado por um cliente da minha loja de discos, lá pela primeira metade dos anos 90, formei com ele um grupo chamado Wallflowers - o nome era inspirado em uma canção do grupo americano Plasticland - que logo passou a cantar em português e se chamar Traidores do Movimento. O grupo ia bem, tinha local de ensaio e equipamento. Até o dia em que, arranjando uma nova canção, pedi para o baixista tocar algo simples. O nosso grande artista não achou a canção digna do seu talento e implodiu a banda.

Mais recentemente participei, ao lado de meu filho, do grupo LP & Os Compactos. A banda alcançou alguma projeção, até mesmo nacional, mas nunca conseguimos fechar uma formação em que todos os integrantes estivessem voltados para os mesmos objetivos. Frustrante é a palavra que bem pode definir os anos em que toquei com a LP, como era chamada carinhosamente pelos fãs. Sim, tínhamos fãs. 

Com todos os problemas que uma banda pode ter, a LP & Os Compactos, ainda assim, foi a banda mais bem sucedida que eu já participei. Mas, como disse, não me deixou saudades. Mudar de nome para Zelvis e trocar mais uma vez de estilo não melhorou nada de nada. Enfim, continuaram os problemas de sempre. Sem amizade e ainda por cima, sem dinheiro entrando, nada dá mesmo muito certo.

Daí a razão da minha afirmação de que bandas de rock deveriam ser proibidas a maiores de idade. Porque as verdadeiras amizades são feitas, consolidadas até, ainda na adolescência. E as grandes bandas de rock do mundo inteiro foram todas formadas, no máximo, às portas das universidades. Rock é coisa para menino. Adulto brincando de roqueiro só se for a dinheiro, só se for como profissão. porque, senão, é como aquela turma que coleciona bonecos e diz que são action-figures. Gente um tanto deslocada no tempo e no espaço e sem muita noção do ridículo. Não é o meu caso. Para mim, pelo menos, melhor ser Ronnie Von do que Serguei.









Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A CARTA ANÔNIMA

 Quando eu era menino, ainda ginasiano, lá pela sexta série, a professora resolveu fazer uma dinâmica bastante estranha. Naquele tempo ainda não tinha esse nome mas acho que ela quis mesmo fazer uma dinâmica, visto pelas lentes dos dias atuais. Ela pediu que cada aluno escrevesse uma carta anônima, romântica, se declarando para uma outra pessoa.  Eu confesso que não tive a brilhante ideia de escrever uma carta anônima para mim mesmo e assim acabei sem receber nenhuma carta falando sobre os meus maravilhosos dotes físicos e intelectuais. Já um outro garoto, bonitão, recebeu quase todas as cartas das meninas da sala. E sabe-se lá se não recebeu nenhuma carta vinda de algum colega do sexo masculino, escrita dentro de algum armário virtual. Eu, é claro, escrevi a minha carta para uma menina branca que nem papel, de óculos de graus enormes e um aparelho dentário que mais parecia um bridão de cavalos. Ela era muito tímida e recatada, havia nascido no norte europeu mas já morava...

O SONHO

  Oi. Hoje eu sonhei contigo. Aliás, contigo não. Eu sonhei mesmo foi comigo. Comigo sim, porque o sonho era meu, mas também com você, porque você não era uma mera coadjuvante. Você era a outra metade dos meus anseios juvenis que, quase sexagenário que sou, jamais se concretizaram. Não que a falta de tais anseios me faça infeliz. Não faz. Apenas os troquei por outros, talvez mais relevantes, talvez não. Hoje de madrugada, durante o sonho, eu voltava a ter 20 anos e você devia ter uns 17 ou 18. Eu estava de volta à tua casa, recebido por você em uma antessala completamente vazia e toda branca. Branca era a parede, branco era o teto, branco era o chão. Eu chegava de surpresa, vindo de muito longe. Me arrependia e queria ir embora. Você  queria que eu ficasse, queria tirar minha roupa ali mesmo, queria que eu estivesse à vontade ou talvez quisesse algo mais. Talvez? Eu era um boboca mesmo. Você era uma menina bem assanhadinha, tinha os hormônios à flor da pele e eu era a sortuda ...

Porque não existem filas preferenciais nos EUA.

Entrei em contato com um amigo norte-americano que morou por muitos anos no Brasil e o questionei sobre a razão de não haver filas preferenciais nas lojas norte-americanas. Ele me respondeu que não havia apenas uma mas várias razões. Uma delas é legal, porque é anticonstitucional. A enxutíssima constituição dos Estados Unidos simplesmente proíbe que determinado grupo social tenha algum direito específico sobre outro. Ou todos têm ou ninguém tem. Então, lhe questionei sobre as ações afirmativas na área de educação. Ele me respondeu que as ações afirmativas seriam constitucionais porque serviriam justamente para nivelar um grupo social em desigualdade aos outros. O que não seria, segindo ele, o caso de gestantes, idosos e deficientes físicos. A segunda razão seria lógica e até mesmo logística: Uma fila preferencial poderia ser mais lenta do que a fila normal e acabar transformando um pretenso benefício em desvantagem. Isto abriria espaço para ações judiciais no país das ações judic...