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CARTA À AMADA.

Me empresta aquela tua  borracha colorida, em formato de coração, pois o  passado precisa ser apagado e esquecido.  De hoje em diante quero te reconquistar. E mais que reconquistar, quero te  conquistar de novo a cada dia, ainda que não seja preciso.  Aliás, preciso  sempre será,  pois o amor é um corpo que precisa do alimento para sobreviver. E o alimento que satisfaz o  amor é o carinho, o respeito, a atenção e, sim, o tesão.

Quero te encher de flores todos os dias. Mas não as flores que se compram na floricultura e que murcham e morrem com o tempo.  Quero te dar as flores que não podem ser compradas, as que brotam do solo fértil da minha necessidade de te ter ao meu lado.

O amor é egoísta por definição. O meu também é. Ninguém quer amar apenas  para fazer o outro feliz.  Ama-se para se ser amado. Como naquela canção de Antônio Marcos, “preciso tanto me fazer feliz”.  Mas, ao mesmo tempo não se é amado sem amar. Então, cria-se o moto contínuo perfeito, onde o meu amor por você alimenta o seu amor por mim e vice-versa.

Muitas vezes, para que possamos perceber o quanto alguém é importante para nós, é preciso perceber, antes, o quanto ela se tornou desimportante.  A convivência cotidiana, a rotina, a certeza de que  aquela pessoa estará sempre lá, é capaz de nos fazer esquecer do porque abdicamos da solidão para estarmos ao lado de alguém.  E eu, definitivamente, deixei de ser só no dia em que eu te conheci.

Quero revisitar a sua geografia como se volta a uma cidade que visitamos um dia e em que fomos felizes. Quero relembrar as tuas curvas, as tuas ladeiras, as tuas saliências e reentrâncias. Quero  mudar inesperadamente de rota e rumar por aquela rua escura em que não andei quando te descobri pela  primeira vez.  Quero as tuas casas, todas as tuas janelas abertas para mim, para que não haja mais limites para nossas loucuras.

Quero dormir de novo, de novo e de novo na cama branca da tua pele alva e sedosa. Quero ser novamente teu príncipe encantado, a despeito do fato de que príncipes encantados não possam nem devam existir.  Quero um faz-de-conta real,  uma aventura nova a cada dia, um “assim viveram felizes para sempre” diário, mesmo que seja apenas só por hoje para recomeçar tudo amanhã.

Quero você. Sem mais delongas, assinado, datado carimbado e autenticado. E quero para sempre.


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