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O DIA DE FOLGA DE JESUS.

Sim, eu acredito em Inri Cristo. E porque não haveria de acreditar? Em um mundo onde as pessoas acreditam cegamente em tudo, eu acredito em Álvaro ThaísÁlvaro Thaís é o nome de batismo de Inri Cristo. Nascido em um dia ensolarado de 1948, Inri, se não veio trazer luz ao mundo como aquele a quem afirma ser seu antecessor, ao menos, veio para que Deus testasse nossa fé. Sim, porque não há nenhum outro candidato a  ”Jesus Cristo” respirando neste momento, pelo menos entre os que eu conheço, que não tenha um claro interesse em usar da sua posição de “filho do homem” para tirar para si algum tipo de vantagem. O único que só teve a perder com a ideia fixa de ser o salvador da humanidade versão 2.0 foi o próprio Inri Cristo.

Em seu simpático discurso a respeito do seu “pai”, Inri costuma dizer que “ninguém é obrigado a acreditar”. Ele se refere, especificamente, ao fato de que afirma ser a reencarnação de Jesus de Nazaré. E, confesso, nesta parte de seu discurso, eu realmente não creio. Porém, quando Inri Cristo começa a falar de Jesus - aliás, dele mesmo, segundo ele - e de seus ensinamentos, é de uma clareza e coerência que é impossível não afirmar com todas as letras: Sim, eu acredito no que ele diz.

Os sinais de loucura e farsa em Álvaro são evidentes. Um deles é o sotaque polonês típico dos judeus daquela região, que vieram morar no Brasil, e que Inri acredita ter alguma semelhança com o do Jesus original. Outra é a “coroa de espinhos” feita de espuma, bastante providencial. Há também as suas vestes, parecidas com a que nos habituamos a ver no Jesus europeu que a igreja medieval tornou popular. Mas, na candura de seu teatro, nem a farsa de Thais parece ter o intuito de enganar alguém a não ser ele mesmo.

Porém, a consistência teológica de Álvaro “Inri Cristo” Thais é impressionante. Assim como o seu antecessor, Inri não faz concessões convenientes ao que ele entende por evangelho. 

O que mais me incomoda nesta sequencia moderna da paixão de Cristo é que o Jesus atual, diferente do original, não tem uma cruz de verdade a carregar. Enquanto o de Nazaré morreu jovem e crucificado, a versão brasileira chega, neste momento, aos 66 anos, já tendo vivido o dobro da sua primeira versão. Inri, hoje, reside tranquilamente em um sítio nas cercanias de Brasília, cercado de belíssimas discípulas, cujo passatempo é postar vídeos na internet com versões “místicas” de clássicos da música pop. Seus pequenos luxos são mantidos por contribuições de simpatizantes endinheirados e do fruto da venda das publicações da SOUST, a sua organização religiosa.

Gosto de imaginar que Inri Cristo pode realmente ser a reencarnação de Jesus e que, em sua pessoa, o Salvador já tenha realmente voltado ao mundo. Se for assim, quase todos os cristãos estão literalmente lascados. Inri é ridicularizado - quando não hostilizado - por 99% deles. Se houver juízo final, em minha defesa, por não acreditar no novo salvador, vou apelar para o senso de humor de Deus. Vou dizer que, do jeito que ele mandou seu filho de volta ao mundo, jogando sinuca, participando de programas de TV, andando de moto aqui e acolá, com discípulas cantoras, fica realmente difícil dar algum crédito maior a Inri Cristo, senão o de nos entreter.

Mas também vou alegar que sempre o defendi. Inri, com seu jeitão de personagem cômico de Ronald Golias, sempre me encantou, desde a primeira vez que o vi, ainda nos anos 90, como atração burlesca do programa do Ratinho. E, com Inri Cristo, eu passei a me interessar pelo Jesus original e descobri que muita coisa do que se ensina a  respeito do Cristo não é exatamente como se diz.

Penso que Jesus ter renascido - ou reencarnado - no Brasil, cercado de lindas mulheres a servi-lo, pode ter sido, afinal, a recompensa que Deus deu ao seu filho por ter se sacrificado pela humanidade. Talvez o Senhor, em sua nova versão, esteja apenas de férias, como naquele filme clássico da década de 80, “Ferris Bueller’s Day-Off”, literalmente “o dia de folga de Ferris Bueller”. O filme, que lançou o então jovem ator Mathew Broderick, no Brasil, teve por aqui o título de “Curtindo a vida adoidado. Pode ser isso. Talvez, reencarnado em Inri, o Cristo esteja apenas curtindo a vida. Adoidado.

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