Algumas pessoas vivem conservadas
no formol do rancor. Na verdade, a palavra que eu queria usar era até mais
amena - "mágoa" - mas é difícil acreditar
que as pessoas possam guardar mágoas umas das outras eternamente. A mágoa tem prazo de validade. Úmido e
fresco, o fruto da mágoa resseca e endurece, daí se tornando rancor. Mas rancor não é uma palavra perfeita para
descrever o sentimento de quem convive, ao mesmo tempo, com emoções tão diversas quanto raiva e
carinho pela mesma pessoa. É preciso uma
palavra nova para descrever isto.
O rancor denota uma sede de vingança, de retaliação, de
querer mal, que as pessoas que mantêm a amargura por muito tempo acabam não tendo. Elas
conservam suas mágoas muito bem
acondicionadas nos freezers da mente e o “agente magoador” muito bem aquecido no
coração.
Querem estar próximas daquelas que a magoaram; querem, de alguma forma, continuar a fazer parte do mundo delas. Mas não querem
jamais esquecer daquilo que foi feito a elas; aquilo que, um dia, as magoaram.
Daí a necessidade de uma palavra nova na
língua portuguesa, que signifique este "algo" entre mágoa e o rancor, e que sirva para aquelas pessoas
que se sentem magoadas mas não conseguem abstrair, nem se afastar completamente
do causador de seu sofrimento.
Toda relação entre dois seres humanos, seja ela amorosa ou
simplesmente de amizade, tem um prazo de
validade. Como tudo na vida, elas começam,
têm um meio e terminam. Relacionamentos podem durar uma vida toda, assim como
podem acabar em um ou dois dias. Podem terminar por desinteresse ou o afastamento pode vir pela perda de contato, ou, ainda, podem acabar de forma
conflituosa.
Relacionamentos podem, inclusive, se reciclar. O tempo, este implacável senhor, deveria cuidar da cicatrização de todas as feridas de uma relação que acabou mal. Mas, muitas vezes, nós mesmos impedimos a ação do tempo, colocando nossas mágoas no congelador. Se as relações de amizade desfeitas têm o poder de, algumas vezes, nem deixar cicatrizes, as relações amorosas parecem deixar marcas indeléveis na pele. Há quem amou e foi magoado e tenha memória de elefante, pois jamais esquece. Mas algumas vezes não se furta de se aproximar daquele que amou um dia e demonstrar algum carinho.
Relacionamentos podem, inclusive, se reciclar. O tempo, este implacável senhor, deveria cuidar da cicatrização de todas as feridas de uma relação que acabou mal. Mas, muitas vezes, nós mesmos impedimos a ação do tempo, colocando nossas mágoas no congelador. Se as relações de amizade desfeitas têm o poder de, algumas vezes, nem deixar cicatrizes, as relações amorosas parecem deixar marcas indeléveis na pele. Há quem amou e foi magoado e tenha memória de elefante, pois jamais esquece. Mas algumas vezes não se furta de se aproximar daquele que amou um dia e demonstrar algum carinho.
Esta dubiedade é bastante reveladora. Demonstra o tanto quanto aquela pessoa que nos magoou ainda é importante para nós e o quanto ainda não superamos a mágoa. Imagino que aconteça mais com as mulheres, mas não duvido que alguns homens também recorram a este expediente. Tudo que queriam fazer era provar que não se importam, que superaram a mágoa, que deram a volta por cima,. Porém, apenas comprovam que, ali no coração, em algum lugar, por menor que seja, ainda guardam quem lhe magoou, muito bem guardado, a sete chaves. É preciso descongelar a mágoa, desaquecer o coração e dar um passo à frente, transformando a dor em experiência. Senão corremos o risco de viver em um eterno cemitério de ex-amores mortos-vivos.
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