Há três anos, morria, aos 111 anos de idade, o cidadão feirense Honorato Alves. Trata-se, não de um ancião longevo qualquer – se bem que uma pessoa que viva 11 décadas e um ano não é uma pessoa qualquer – mas de uma referência cultural da cidade baiana de Feira de Santana. Honorato é mais conhecido pelo seu apelido, Noratinho da Pamonha, e pelo cântico-jingle com o qual vendia suas iguarias pela cidade afora. Canto este, facilmente reconhecível por qualquer feirense de mais de 45 anos de idade.
Noratinho era um microempreendedor nato. Filho de ex-escravos, alforriado pela lei do ventre livre, o menino Norato trabalhou desde muito cedo. Foi vaqueiro e dizem que era um trabalhador incansável. Comprou um pedaço de terra de um fazendeiro para quem trabalhava, plantou milho e colheu. Com o milho fabricou pamonhas, que passou a vender de porta em porta nos quatro cantos da cidade. Um verdadeiro self-made man.
O produto de Noratinho vinha muito bem embalado, em condições de higiene excelentes e, ainda por cima, contava com o marketing sedutor de seu canto, tomado emprestado dos aboios do tempo em que era vaqueiro. Quando se ouvia ao longe o cantar de Noratinho, as crianças - eu inclusive - começavam a infernizar os pais para lhe darem dinheiro para comprar pamonhas. E, diga-se de passagem, os próprios pais esperavam ansiosamente pela vinda do velho Norato e suas delícias.
Noratinho tinha um charme irresistível na forma de tratar o cliente. Se era branco, o cliente virava “meu branco”. Se era negro, se tornava “meu preto”. E todo mundo era dele, não importa que cor tivesse. Norato era o tipo de brasileiro do qual deveríamos nos orgulhar: trabalhador, honesto, empreendedor, gentil e criativo.
Aliás, Noratinho da Pamonha deveria ser símbolo da cidade de Feira de Santana. Deveria passar a ser chamado de Noratinho da Feira. Poderia substituir alguns “da Feira” que insistimos em transformar em heróis, mas isto não é assunto para tratar aqui. Aqui é hora de celebrar Noratinho. Feira de Santana precisa urgentemente ter ao menos uma rua batizada como Rua Noratinho da Pamonha.
Lembro de, até outro dia, ao fazer minhas caminhadas diárias, passar pela porta da sua casa na Rua Papa João XXIII e vê-lo sentado na varanda, já muito velhinho, com a cabeça toda branca. Assim como muitos faziam, pedia-lhe a bênção à qual ele respondia com a voz tênue: - “Deus lhe proteja, meu filho!”. Ao final da vida, já quase cego, Noratinho não tratava mais seus saudosos ex-clientes por “preto” e “branco”. Éramos todos seus filhos. No primeiro dia de outubro de 2012, Deus levou Norato para preparar pamonhas para Ele no céu. De vez em quando, no silêncio da noite, apurando o ouvido em direção ao infinito, dá para ouvir bem longe o canto doce de Noratinho da Pamonha chamando os anjos para lanchar.
O produto de Noratinho vinha muito bem embalado, em condições de higiene excelentes e, ainda por cima, contava com o marketing sedutor de seu canto, tomado emprestado dos aboios do tempo em que era vaqueiro. Quando se ouvia ao longe o cantar de Noratinho, as crianças - eu inclusive - começavam a infernizar os pais para lhe darem dinheiro para comprar pamonhas. E, diga-se de passagem, os próprios pais esperavam ansiosamente pela vinda do velho Norato e suas delícias.
Noratinho tinha um charme irresistível na forma de tratar o cliente. Se era branco, o cliente virava “meu branco”. Se era negro, se tornava “meu preto”. E todo mundo era dele, não importa que cor tivesse. Norato era o tipo de brasileiro do qual deveríamos nos orgulhar: trabalhador, honesto, empreendedor, gentil e criativo.
Aliás, Noratinho da Pamonha deveria ser símbolo da cidade de Feira de Santana. Deveria passar a ser chamado de Noratinho da Feira. Poderia substituir alguns “da Feira” que insistimos em transformar em heróis, mas isto não é assunto para tratar aqui. Aqui é hora de celebrar Noratinho. Feira de Santana precisa urgentemente ter ao menos uma rua batizada como Rua Noratinho da Pamonha.
Lembro de, até outro dia, ao fazer minhas caminhadas diárias, passar pela porta da sua casa na Rua Papa João XXIII e vê-lo sentado na varanda, já muito velhinho, com a cabeça toda branca. Assim como muitos faziam, pedia-lhe a bênção à qual ele respondia com a voz tênue: - “Deus lhe proteja, meu filho!”. Ao final da vida, já quase cego, Noratinho não tratava mais seus saudosos ex-clientes por “preto” e “branco”. Éramos todos seus filhos. No primeiro dia de outubro de 2012, Deus levou Norato para preparar pamonhas para Ele no céu. De vez em quando, no silêncio da noite, apurando o ouvido em direção ao infinito, dá para ouvir bem longe o canto doce de Noratinho da Pamonha chamando os anjos para lanchar.
Comentários
Comprei muitas pamonhas nas mãos de Noratiinho.
Homem digno e inesquecível.