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TOP FIVE - OS MAIORES BATERISTAS DO ROCK.

Em uma das bandas em que toquei pela vida afora, sempre que eu me lamentava dos problemas com bateristas, nosso produtor me consolava dizendo que eu relevasse, pois "todo baterista é problemático". Eu bem que sei disto, pois, curiosamente, ingressei na música pelo instrumento. Comecei a tocar bateria aos 15 anos, em uma protobanda cujo kit percussivo era formado por gavetas de guarda roupa e uma luminária de poste de rua que servia de prato. Mais tarde, toquei em outras bandas que despontariam para o anonimato e só depois passei para a guitarra, por simples falta de guitarristas para tocar. Então, praticamente estas primeiras foram as bandas que tive em que nada tinha a reclamar do homem das baquetas, já que o tal batuqueiro era eu mesmo. Já os outros instrumentistas...

Mas, puxando a brasa para minha antiga sardinha, e sem também querer bancar o advogado do diabo, tocar bateria é mesmo uma opção de gente não muito convencional. Bate-se em um monte de tambores e pratos com os quatro membros em (nem sempre) perfeita sintonia. E sem contar que alguns ainda gostam de executar, em shows, as fatídicas peças chamadas "solos de bateria". E discos solo de bateristas, hein? Que coisa esquisita... Eis aqui, então, cinco destes seres, que podem nem ser os melhores - e certamente não são - mas que, por motivos diversos, alcançaram alguma notoriedade tocando seu instrumento:

Ringo Starr -  Nascido Richard Starkey, em Liverpool, Inglaterra, no ano de 1940, substituiu Pete Best nos Beatles e, óbvio, tirou a sorte grande, se tornando o ritmista da banda mais famosa do mundo.

Ringo é um verdadeiro metrônomo humano, nunca perdendo o ritmo, mesmo tocando em situações inaceitáveis, como em estádios cheios de garotas gritando e sem PA de retorno, como nos primeiros shows americanos dos Beatles em grandes arenas. Tocava vigorosamente na caixa, sem muitos floreios, ao contrário de muitos outros bateristas de sua época. Starr colocava a mesma força em ambas as mãos, ao contrário de seus contemporâneos, que pesavam no prato e pegavam leve na caixa. Seu estilo influenciou muitos outros músicos contemporâneos, inclusive Charlie Watts, dono das baquetas nos Rolling Stones.

Ringo, que tinha este apelido por gostar de usar muitos anéis, foi o primeiro a deixar os Beatles, reclamando que composições suas não entravam nos discos da banda. Também foi o primeiro a voltar, duas semanas depois, obrigando os companheiros a implorar por sua volta. Por outro lado, Ringo Starr sempre foi a "cola" que manteve os Beatles unidos em momentos de crise.


Steve White - Nascido em Londres em 1965, foi o baterista mais jovem a estar no palco do Live Aid, em 1983. Com forte influência de jazz, imprimiu ao pop luxuoso do grupo Style Council um estilo único, de poucas viradas e o uso constante dos pratos, mesmo nas canções mais pop-rock. Nas gravações do grupo, e principalmente, nas apresentações ao vivo, parecia estar sempre a um passo do desastre, tamanha sua ousadia em contratempos que desafiam a lógica.

Steve, que nunca quis ser integrante oficial do Style Council, deixou o grupo de Paul Weller em 1989, no auge do sucesso, apenas para retornar no ano seguinte. E sair de novo.  Desde então, entra e sai de grupos e projetos solos que envolvam Weller. Steve White é irmão de Alan White, não o baterista do Yes, mas o do Oasis, tendo inclusive substituído Alan em alguns shows do grupo dos irmãos Lennon.

Keith Moon  - Baterista do The Who, Moon era dono de um estilo exuberante e inovador. Nascido em 1946 e morto em 1978, por overdose de remédios, tinha fama de pessoa difícil e excêntrica. Enquanto Ringo Starr trouxe a economia para o rock, Keith flertou com a extravagância. Se podia ser simples, porquê não complicar? E tome viradas, contratempos, baterias demolindo em pleno palco.  Foi, também, um dos primeiros a utilizar kit duplo de bateria.

Muitos torciam o nariz para seu jeito de tocar, inclusive, em muitos momentos,  seus próprios companheiros de banda, mas sua importância para o rock é indiscutível. Era conhecido pela sua fama de descompensado (seu apelido era "Moon, the loon", ou "Moon, o lunático"). Também era  notório destruidor de quartos de hotéis, praticamente dando origem ao divertido passatempo de muitos rockstars. Keith Moon morreria aos 32 anos, após um jantar com Paul McCartney, no mesmo apartamento no qual a cantora Mama Cass, do Mama's & The Papa's havia morrido quatro anos antes, supostamente entalada com um sanduíche.

Stewart Copeland - Irmão do famoso produtor Miles Copeland, Stewart nasceu americano em 1952.  Seu pai era agente da CIA, o que o fez rodar o mundo, indo parar na Inglaterra nos anos 70. Foi roadie da banda de rock progressivo Curved Air, onde, mais tarde, assumiria o posto de baterista e, na sequencia, tentou se lançar na carreira artística com o pseudônimo de Klark Kent, cantando e tocando guitarra. Quase que simultaneamente, entrou para o grupo The Police, com Sting e Andy Summers. Seu single como "Klark Kent" chegou a ficar nas paradas ao mesmo tempo que "Can't Stand Losing You", primeiro single do Police.
         
Seus detratores afirmam que seu estilo de tocar, nada mais é do que uma mera adaptação do estilo do jazzista Buddy Miles (do qual Copeland é fã assumido) para o rock,. Foi imitado mundo afora, inclusive no Brasil. Entre os muitos brasileiros acusados de imitá-lo está João Barone, à frente das baquetas dos Paralamas do Sucesso. Barone costuma dizer que não o imita e que ambos, ele e Stewart Copeland, são, na verdade, muito influenciados por Miles.


Doktor Avalanche - E, por último mas não por derradeiro, o meu baterista preferido, o anglo-nipônico Doktor Avalanche. Avalanche era conhecido por ser um cara caladão, disciplinado e obediente como todo bom baterista deve ser. Também nunca faltou a um ensaio, nunca reclamou do cachê e estava pronto para tocar em questão de minutos.  Seu kit sempre estava montado.

À frente das baquetas do grupo gótico inglês Sisters Of Mercy, este músico é considerado uma verdadeira "máquina". Aliás, uma não, foram sete ao longo da carreira do grupo. A banda de Andrew Aldritch foi a primeira a se utilizar unicamente de uma bateria eletrônica, tanto em shows como em discos. Todo guitarrista, todo baixista, todo vocalista, sonha em ter um baterista como Avalanche. Enfim, finalmente, um baterista perfeito.

Brincadeiras a parte, o baterista é o motor de uma banda, principalmente no rock. Se uma banda fosse um PF, ele seria o feijão e o baixista o arroz. Sem baterista, não há rock and roll. Um grande abraço a todos os bateras que lerem este artigo e um pedido de paciência a guitarristas, baixistas, tecladistas e vocalistas. Bateras são chatos, nós sabemos, mas, sem dúvida, são imprescindíveis. Longa vida aos homens das baquetas!

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