Quase todo
homem tem uma estranha fixação pela primeira namorada. Ou melhor, não exatamente pela primeira
namorada, mas pela primeira mulher pela qual se apaixonou. E eu digo “quase” apenas porque sei que nem
todos os homens assumirão que isto acontece. Ou já aconteceu com eles. Enquanto a mulher se recupera e
ganha experiência para seguir adiante, boa parte dos homens transforma este primeiro
amor em exemplo de mulher ideal, perfeita e intangível, ainda que ela esteja, eventualmente, bem ali do lado. Porque, de certa forma, o homem “congela” o seu objeto de amor naquele exato momento em
que deixou de ser apaixonado por ela.
A
moça muda, afinal, todos mudam. Inclusive ele mesmo também mudou, mas continua a lembrar , empiricamente, daquela que, em sua
cabeça, deveria ter sido a mãe de seus
filhos. Enquanto esta fixação toma
apenas alguns dos dias após o término do romance, pode até ser considerado absolutamente normal. É até bastante recomendável aos que são
compositores e poetas, que se utilizem deste
tema para suas respectivas canções e poemas. A música pop é cheia de temas excelentes
sobre este tipo de experiência. Mas,
quando a fixação pela primeira namorada se estende pela vida afora, eis aí um
enorme problema a ser resolvido, geralmente por um bom psicanalista. E, por favor, se a sua ex-namorada, por um acaso, for formada em psicanálise clínica, ela não!
Aquele que tem
este tipo de distúrbio emocional jamais
encontrará outra mulher igual àquela que só existe em suas lembranças. Não haverá outra namorada que seja tão
perfeita quanto a inesquecível fulana de tal.
E se, por um destes acasos da
vida, o relacionamento com a primeira
namorada vier a ser retomado, nem ela
mesma escapará de ser comparada com aquilo que, supostamente, um dia tenha sido.
O apego demasiado ao passado, neste caso, pode ter consequências drásticas na vida
do homem. Um casamento pode ser seriamente
prejudicado pela “sombra” de uma mulher
inatingível, que, ao final das contas, sequer existe.
Muito pior
quando a ex-namorada perfeita sabe o que
significa e gosta de ser e se sentir importante na vida do pobre coitado. Aí é que ele não irá se curar nunca deste amor
que não é amor, mas que atrapalha pra
burro. E é pra burro mesmo. Burro e cego, diga-se de passagem. Ela irá fazer de tudo para que ele nunca seja
feliz, ainda que ela não queira
necessariamente ser feliz ao lado dele.
Mas, enfim, meu
caro amigo adoecido emocionalmente, seu
problema tem cura sim. E é mais fácil do que você imagina. E é ainda mais fácil quando você passou um
longo tempo distante da figura idealizada. Ora, geralmente estes arroubos de paixão
ocorrem na adolescência e na transição para a idade adulta. Imaginando que você tenha hoje mais de 30
anos - ou esteja muito perto disso - você não é mais aquele daquela época. Ela, obviamente, também não.
Pois então, tal qual o veneno para a mordida de cobra, você vai se curar provando daquilo que
justamente lhe envenenou. Agora que
vocês são adultos, muitas vezes já pais e mães de família, procure conhecer melhor esta “nova ela” em que sua musa se transformou. Até porque ela não se transformou em nada. Ela era basicamente assim, já naquele tempo. Você é que, apaixonado e cego, era incapaz de enxergá-la como realmente
era. E, repito, a culpa jamais foi da moça. Ela é um ser humano absolutamente normal. Você é que viajou na maionese do amor.
Quando
crescemos, tal como um sistema
operacional, adquirimos vícios “de uso”,
que tendem a crescer com o tempo. Por exemplo, se éramos egoístas na adolescência, tudo bem então, pois todo adolescente é um tanto egoísta. Mas se continuamos assim na idade adulta, só pioraremos com o tempo. O mesmo, inclusive, nem sempre vale para as virtudes. E, em
muitos aspectos, a sua musa inspiradora
pode ter se tornado mesmo uma “pessoa pior”. E,
fatalmente, ela será pior do que a forma
lírica com que você a imaginava; simplesmente, porque tal forma nunca existiu.
Se
decepcionar. Esta é a chave. Procure conhecê-la, agora,
o melhor que puder, e se decepcione com a mesma intensidade com que, um
dia, se apaixonou. Mas se decepcione “di cum força”, como dizem os mais jovens. No fundo, a coitada não tem a menor culpa de causar
tal decepção. Você é que criou enormes
expectativas sobre ela. Tal qual como o
perdão, que é dado mais para alívio do ofendido do que do ofensor, a
decepção com a mulher idealizada irá libertá-la, te libertar dela e de si mesmo. Agora vai, vai ser feliz. Só não me faça a pachorra de se apaixonar cegamente
de novo. Porque para gente assim,
definitivamente, não há cura.
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