A história dos
Cuddly Toys começa como qualquer outra história sobre adolescentes e bandas de rock and roll. Garotos de classe média baixa, entediados e revoltados , todos colegas de escola, resolvem
formar um conjunto musical para passar o tempo, se divertir e, se der, pegar algumas garotas.
O cenário é
que talvez faça alguma diferença: Era a
Londres de 1976, em plena crise de desemprego e recessão. O punk rock era a
trilha sonora de todo aquele desencanto
e e era muito natural que estes
meninos também aderissem ao movimento. Até porque não sabiam mesmo tocar e só o
punk os receberia com a indulgência necessária para a óbvia indigência musical
daqueles rude boys ingleses.
Batizaram a
nova banda como Raped (Violentados) e, ainda
assim, com um nome tão forte , conseguiram assinar com a nanica gravadora Parole Records
e lançar um ep de estreia com o ainda
mais terrível título de "Pretty Pedophiles", cuja tradução aqui se faz completamente desnecessária. Neste momento, o Raped era uma das milhares de bandas punk
que vieram na cola dos Sex Pistols e, ainda por cima, não eram absolutamente
nada demais. Se não eram exatamente
ruins, nada havia ali que realmente se aproveitasse, a não ser, claro, que você fosse
um fanático por punk rock.
Como Raped, lançaram mais um single, “Cheap Out Night”, em 1979, e nada aconteceu. Conheceram Marc Bolan, que os apelidou de "Peacock Boys" (meninos-pavões), na esperança de que trocassem de nome, e os indicou ao seu
empresário, Alan Hauser. Bolan também entregaria ao Raped a demo de uma canção
inédita que havia feito em parceria com David Bowie, chamada "Mad Man" e gostaria que os meninos
gravassem.
Em uma
apresentação durante o natal de 78 foram finalmente assistidos por Alan Hauser que pareceu ter encontrado algo naquela banda ruim que ninguém mais
tinha visto. Hauser teria dito ao
vocalista Sean Purcell: “Vocês são fantásticos, eu contrato vocês imediatamente,
mas, por favor, precisam de um nome mais brando que este”.
A banda
imediatamente acatou a sugestão e, inspirados em um obscuro lado b de um single
dos The Monkees, rebatizaram-se como Cuddly
Toys (bichinhos de pelúcia). Hauser aprovou a mudança e os apresentou a Woody Woodmansey, baterista da banda de Bowie que aceitou produzi-los. Woodmansey
também conseguiu que David Bowie cedesse “Madman”, última parceria com
Marc Bolan, que havia falecido há poucas semanas em um acidente de carro.
Com um single-coringa
nas mangas e o relativo apadrinhamento de Bowie, em três meses Woodmansey e os
Cuddly Toys compuseram, ensaiaram e
gravaram um álbum de estreia. Durante os ensaios, efetivam na banda o
tecladista convidado Billy Surgeoner.
No meio de
1979 era lançado "Guilotine Theatre", um
disco fortemente influenciado pela música de seu padrinho e com uma péssima
recepção pela crítica especializada que os acusavam de ser um mero carbono de David Bowie. Uma grande injustiça, pois copiar Bowie no disco de estreia de uma banda em busca de sua sonoridade e originalidade não
era, na Inglaterra e em 1979, um quesito determinante para medir
o sucesso e a qualidade de um grupo. Além do que, este primeiro álbum trazia um elenco de canções invejável para qualquer artista iniciante.
A banda foi
“vendida” de uma forma no mínimo curiosa: Para provocar uma reação da imprensa
especializada, o empresário Hauser espalhou que os integrantes da banda
eram bruxos bissexuais descendentes diretos do lendário escritor satanista Aleister Crowley, e que promoviam grandes orgias e sessões de autoexorcismo..
A “mística” em torno no grupo ajuntou um
publico bastante eclético em seus shows,
sendo formado basicamente por travestis,
skinheads e glam-punks. Na plateia
estavam peças fundamentais do que viria a ser conhecido, dois anos mais tarde,
como movimento New Romantic.
Apesar de
terem dividido o palco com artistas como o Classix Noveaux, Psychedelic Furs,
Bauhaus e até mesmo um já decadente Gary Glitter, os Cuddly Toys e
seu interessante mix de glam e punk rock acabaram não acontecendo na
Inglaterra, mas, como sempre, fizeram um enorme sucesso no Japão.
Partem para
uma excursão ao lar de Godzilla, com os
concertos lotados e ingressos esgotados que só o Japão pode proporcionar. Quando
retornam à terra da Rainha, estão prontos para gravar um novo disco. “Trials and Crosses” sai no início de 1982 e traz uma banda mais madura e em perfeito timing com
o agora nascente movimento new romantic. A canção “It’s a Shame” é lançada em
single e faz cócegas no hit parade, sem
muito sucesso. Apesar de ter um material
excelente, até mesmo superior ao do primeiro disco, o segundo disco é novamente mal
recebido e são massacrados pela mídia, que agora os acusam de imitar
seus imitadores, o Classix Noveuax. Algo parecido com o que ocorreu entre o Duran Duran e o Japan.
Os Cuddly Toys seguem em digressão novamente ao Japão, onde repetem o sucesso de dois anos antes. As constantes mudanças na formação, somados à óbvia falta de sucesso, vão minando a
vontade de Sean Purcell de continuar tocando.
No final de
1984, sem contrato e sem grandes perspectivas, a banda se dilui. Purcell muda-se para a
Irlanda onde vai trabalhar com músicos tradicionalistas. Em 1996, vem a falecer,
de câncer cerebral.
Cuddly Toys, os teddy-bears do sub-mundo, estrelas empoeiradas,
pioneiros absolutos do movimento new
romantic inglês, não caíram nas bênçãos da crítica especializada
nem da indústria fonográfica. Mas deixaram uma discografia pequena, porém magnífica, que,
simplesmente, conta a história da música
de seu tempo. Let them rest in peace.
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