Nesta primeira semana de julho, o disco We Are The World, do projeto USA For Africa, encabeçado pelos músicos norte-americanos Quincy Jones, Michael Jackson e Lionel Richie, e reunindo aquela que era, à época, a nata da música pop ianque, completa três décadas de seu lançamento. Surgido como uma resposta americana ao projeto inglês Live Aid, e supostamente com as boas intenções de trazer alguma luz ao problema da fome na África, o USA For Africa sucumbiu ao excesso de ego de seus participantes.
O que deveria ser a reunião de pessoas interessadas em ajudar a resolver, ou ao menos atenuar, um dos mais graves problemas do planeta, se transformou em uma insuportável batalhas de egos, uma competição para ver - ou ouvir - quem gritava mais alto. E, após o lançamento, o disco se tornou um dos mais vendidos de seu tempo, com artistas até então pouco conhecidos no resto do mundo catapultando a sua carreira. Mas a fome no continente africano, de lá para cá, só continuou aumentando.
A fome na África é um gravíssimo problema de um mundo que sonha em ir a Marte mas ainda vê suas crianças morrerem de fome aqui mesmo no planeta Terra. Bill Gates, o vilão preferido de dez entre dez usuários de linux, sozinho e sem alardes nem gritarias de popstar, fez muito mais pela África do que qualquer um deles: Patrocinou as pesquisas que deram na criação da multi-mistura, um composto alimentar que vem amenizando a fome não só na África como até mesmo no Nordeste brasileiro, e mais recentemente investiu na criação de uma máquina que transforma fezes em água potável.
USA for África inaugurou a era do cinismo na qual vivemos hoje em dia. Não que o culto ao cinismo, onipresente atualmente em nossa sociedade, tenha surgido exatamente com o lançamento do projeto musical,mas o LP contendo a chatíssima e interminável canção certamente foi um marco. Em seus pouco mais de sete minutos de duração, desfilam nada menos do que 45 das maiores estrelas pop dos anos 80, entre eles um Bruce Springsteen ainda desconhecido mundialmente e a multi-platinada Cyndi Lauper.
A canção ficou realmente famosa pelo estilo "quero ver se você canta mais que eu" e acabou inspirando todo tipo de bizarrices mundo afora. É bom lembrar que a canção original, "Do They Know It's christhmas?", do projeto inglês Band AId, que veio primeiro e inspirou os americanos, é bem menos ambiciosa, porém, muito mais sincera. Basta saber que o dinheiro recebido pelo Band Aid foi doado à ONGs, enquanto as cifras milionárias do USA For Africa foram entregues diretamente aos governos, fazendo assim a alegria de ditadores sanguinários continente negro afora.
A canção ficou realmente famosa pelo estilo "quero ver se você canta mais que eu" e acabou inspirando todo tipo de bizarrices mundo afora. É bom lembrar que a canção original, "Do They Know It's christhmas?", do projeto inglês Band AId, que veio primeiro e inspirou os americanos, é bem menos ambiciosa, porém, muito mais sincera. Basta saber que o dinheiro recebido pelo Band Aid foi doado à ONGs, enquanto as cifras milionárias do USA For Africa foram entregues diretamente aos governos, fazendo assim a alegria de ditadores sanguinários continente negro afora.
Quem não pôde, ou não quis, participar diretamente do projeto enviou as suas piores canções para fazer parte do LP. No lado A, Steve Perry mandou a sua "If Only For The Moment, Girl", Bruce Springsteen mandou "Trapped" e as Pointer Sisters largaram uma "Just a Little Bit Closer", todas perfeitamente esquecíveis e terrivelmente chatas. No lado B, como se tudo não pudesse ficar pior, o canadense Bryan Adams comanda uma espécie de "Canada for Africa" chamado "Nothern Lights". A canção se chama "Tears Are Not Enough"("lágrimas não são suficientes") e é bem isso mesmo, uma coisa ruim de chorar e que consegue ser ainda pior que "We Are The World". Na sequencia da pior coleção de música ruim feita por gente boa de todo o universo, está "4 the tears in your eyes" de Prince e "Good For Nothing" com o Chicago. Completam o disco Tina Turner, Kenny Rogers e Huey Lewis.
Forte candidato a pior disco de todos os tempos, "We Are The World" ainda assim rendeu mais de 55 milhões de dólares aos seus produtores, dinheiro repassado apenas em parte aos governos africanos.. Só o single com a canção principal atingiu, apenas nos Estados Unidos, a marca de 7 milhões de cópias. A fome na África, naturalmente, continuou avassaladora.
"We are the world" gerou filhotes bizarros no mundo inteiro. No Brasil, as crias da anomalia vão desde o projeto "Nordeste Já", com o objetivo de combater a seca naquela região, o "Viver outra vez", iniciativa da Rede Globo promovendo o combate a AIDS e um inacreditável "We Are The World Of Carnaval", com artistas baianos, cuja renda iria para as obras de Irmã Dulce, mas era mesmo para promover o carnaval baiano elencando um time invejável de all-stars da axé music.
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