Eu vou chegando aos cinquenta anos, vou ficando mais velho e percebendo o quanto certas coisas são tolas e desimportantes em minha vida. É verdadeiramente uma pena que esta consciência só me chegue tão tarde, junto com os calos da vivência e as experiências do dia a dia, vividos e vivenciados em quase cinco décadas de vida. Me pego imaginando o que faria com esta experiência de vida que tenho hoje e meus vinte e poucos anos de idade. Certamente, Não teria cometido metade dos meus mais tolos erros acumulados neste verdadeiro jubileu de ouro de tropeços.
E não foi por falta de aviso. Inúmeras vezes ouvi da boca de meu falecido pai que ele gostaria de ter a minha idade e a experiência de vida que ele tinha. E olha que, quando eu ouvia isto, ouvia de um homem de quarenta anos de idade, quase dez a menos do que eu tenho hoje.
Outro dia, meu filho, que, saudavelmente, é um socialista aguerrido aos 26, ouviu de minha boca que eu só conversaria a sério com ele sobre política quando ele chegasse aos 40. Eu digo saudavelmente porque é bom ser socialista na idade em que temos um enorme futuro pela frente e ainda acreditamos em ideais e utopias. Não faz muito sentido é permanecer socialista na maturidade, quando já percebemos que o mundo não é um aprisco de ovelhas pastoreadas por outras ovelhas e o que separa o socialismo da economia de mercado é de que forma está vestido o lobo, como ele realmente é ou travestido de cordeiro.
Nem é sobre política que se trata este texto e sim sobre viver plenamente, Sobre como se relacionar com a vida e como tirar o melhor proveito dela possível. E, infelizmente, ser jovem é dar as costas a tudo isto em nome de viver sendo jovem. Pensando bem, nada mais natural do que experimentar, errar, cair, levantar. Afinal, ironicamente, são justamente os erros da juventude que nos fornecem a experiência de vida que conquistamos na maturidade.
Mas como seria tão bom quase nunca errar e ter sempre a resposta certa para tudo. Deter a solução para quase todos os problemas, saber que a dor que sentimos agora passará e até mesmo ter a capacidade de poder "curti-la" em vez de tentar expurgá-la precoce e inutilmente.
Ah, as dores de amores....As dores de amores tão dilacerantes na juventude e tão tranquilas e companheiras na maturidade. Reflexos daquele tempo em que realmente acreditamos que não poderemos viver sem o objeto de adoração, em que preferimos morrer a se separar da mulher amada...Ah, quanta tolice perpetramos nos nossos anos mais verdes...
Estranhamente não me sinto um velho de cinquenta anos apesar de ter a clara consciência de que não sou mais um adolescente 5.0. Não sei se acontece apenas comigo, é bem provável que sim, mas me sinto cheio de energia com a vantagem de carregar nas costas o fardo leve de ter experimentado os erros cometidos e saber como não repeti-los. Ou, ao menos, saber que, se os repetir, tenho o poder de transformar a experiência em aprendizado para que não aconteçam novamente.
Na juventude encontramos um beco escuro pela frente e nos sentimos tentados a ir adiante para saber o que tem do outro lado, ainda que saibamos dos perigos que envolvem tal atitude. Na maturidade, já sabemos que do outro lado do beco não tem nada que valha realmente a pena e que ainda há o perigo a se correr desnecessariamente. E preferimos ir pela avenida bem iluminada e cheia de gente, ainda que seja um percurso mais distante e menos desafiador.
Gostaria de passar toda a minha experiência de vida aos meus filhos e poupa-los das dificuldades que encontrarão no futuro por serem imaturos, mas sei que isto é uma ação impossível. Me resta apenas estar ali, a postos, pronto para agir quando for solicitado, dar os devidos conselhos, ainda que não sejam necessariamente seguidos, e esperar para dizer, no momento certo, que eu avisei, que eu tinha razão. Que eu não era o dono da verdade, mas sim o dono da experiência. Porque a experiência é uma excelente conselheira. Pena, ou mesmo ainda bem, que os mais jovens fingem nunca saber disso.
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