Não tenho mesmo muita paciência para shows ao vivo. Na época em que eu tocava e me apresentava com bandas só não faltava aos meus próprios shows por pura impossibilidade técnica. Um primeiro grande problema, enquanto telespectador, é o desconforto. Passar mais de quarenta minutos em pé olhando para cima – ou para nucas, quando o palco é a nível do chão - não é exatamente o meu ideal de diversão. Há ainda a interação não consentida com os outros espectadores, porque, além de estar em pé, você vai estar em contato direto com gente bêbada, inconveniente, chata e, algumas vezes, violenta.
Pela mesma razão, detesto ir ao cinema. Ver um filme é uma experiência para ser compartilhada, no máximo, com a família ou amigos muito queridos. Não em um local onde haverá pessoas falando, rindo, celulares ligados, pessoas falando em celulares ligados, conversas paralelas, mastigares de comida e tudo aquilo de que os fãs das salas de cinema costumam reclamar.
Mas o que falta mesmo em um show ao vivo ou uma sessão de cinema é a tecla “pause”. Não é nem a coca-cola ou a cerveja barata e à mão, que temos em casa e, nos shows, a preços astronômicos, como se estivéssemos em Marte e elas viessem da Terra. É a impossibilidade de parar a exibição quando eu quiser. À tecla pause, adiciona-se a tecla “foward” (avançar), onde eu posso pular aquela música chata, tipo corta-clima de show, que os artistas insistem em tocar bem lá no meio da sua gig. Ou a tecla “reward” (retroceder), onde eu posso fazer o meu próprio bis instantâneo.
Porém, o que me faz mesmo pensar dez vezes antes de sair de casa para ver uma banda que gosto e está se apresentando em minha cidade, são as tais bandas de abertura. Se um show está marcado para as 22hs, nem se iluda. Aquele artista que você tanto quer ver só vai tocar lá pelas duas da manhã, quando você já se cansou de ouvir uma fila de “artistas da terra” e a própria atração principal já se embebedou de caipirinha.
O resultado é um show meia boca principal depois de “trocentos” shows meia boca de atrações menores. E as bandas de abertura não se contentam em tocar 20 minutos, marcar presença para poder por no currículo que “tocaram com tal artista” alguma vez na vida. Querem desbancar a atração principal, como se isto fosse razoavelmente possível. Como se alguém dissesse, sem ser pai ou mãe de algum integrante: “- Poxa, fui ver Paul McCartney, mas os Fuinhas roubaram mesmo o show”.
Roubar o show. Que coisa ridícula isto. Alguns músicos têm um senso de competitividade invejável. Invejável se fossem empresários disputando um nicho de mercado. Curioso que muitos destes músicos que se arvoram a pilotos de autorama rejeitam toda e qualquer forma de livre concorrência capitalista. Mas lá estão eles, disputando palmo a palmo quem vai abrir e quem vai fechar o show.
Lembro de uma apresentação do Ira! em Feira de Santana, em que a banda de abertura soltou fogos, tocou todo o cancioneiro do rock nacional da época - inclusive Ira! - em maçantes e longas duas horas de show. Resultado: Quando a banda de Nasi e Scandurra conseguiu tocar, o horário estava estourado e a apresentação dos paulistas foi encurtada para 40 minutos.
Eu não tenho absolutamente nada contra dar oportunidade a bandas iniciantes de apresentarem seu trabalho para um público maior. Aliás, há pessoas que calculam o custo/benefício do preço do ingresso de um show exatamente pelo número de artistas que irão se apresentar. Mas seria mais justo e democrático que houvesse, antes da banda principal, apenas um show de abertura. Todos os outros “abridores” ficariam para depois do show principal. Daí, poderiam ser cinco, seis, sete bandas a tocar. Poderiam avançar pela noite adentro e só parar pela manhã. Poderiam até nem parar, como em uma espécie de 7 a 1 musical. Enquanto houvesse quem assistisse, eles estariam lá tocando. E quem foi ver apenas o artista principal já estaria em casa, dormindo o sono dos justos.
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