Pular para o conteúdo principal

A CASA DO TAL ROCK AND ROLL

O Casa das Máquinas, um dos mais conhecidos grupos de rock nacional dos anos 70, também foi o único a ter feito realmente algum sucesso, antecipando em, pelo menos, seis anos o boom do rock nacional que só aconteceria nos anos 80. Na verdade, o grupo nada mais era do que uma progressão natural de outra banda, esta da jovem guarda, conhecida como "Os Incríveis". Um dos mais importantes grupos dos anos 60, Os Incríveis acabaram em 1972, após intenso patrulhamento político por terem gravada a canção ufanista Eu Te Amo, Meu Brasil, da dupla Dom & Ravel. O guitarrista Aroldo e o baterista Netinho resolveram fundar um novo grupo para explorar as sonoridades progressivas que estavam em moda no rock mundial.

Presentes na memória afetiva dos roqueiros com mais de 45 anos, o "Casa", como era carinhosamente chamado pelos fãs, nos dois primeiros discos, o autointitulado "Casa das Máquinas" (74) e "Lar de Maravilhas" (75), era apenas uma banda correta dentro de sua proposta pop-progressiva. Foi no terceiro disco, "Casa de Rock", de 1976, com a entrada do vocalista Simbas e do guitarrista Piska, que a banda realmente estourou. Sua sonoridade passou a ser mais pesada, suja, emulando um hard-rock muito original e sem ligações óbvias com nenhum outro grupo internacional. Era perfeitamente original, algo bastante incomum nos grupos daquela época.

Quando o disco "Casa de Rock" foi lançado, o grupo experimentava um sucesso nacional com a balada "Vou Morar no Ar" que havia sido trilha de novela. A mudança na sonoridade não foi aprovada pela gravadora, a Som Livre, que queria fazer do grupo uma espécie de Pholhas cantando em português. Em uma atitude temerosa, a Som Livre deixou de trabalhar a música Certo Sim, Seu Errado, até hoje uma das mais belas baladas do rock tupiniquim, com a desculpa de que a letra seria imprópria.

O que a Som Livre não esperava (aliás, nenhuma gravadora espera nada, por isso a indústria do disco acabou), é que os programadores de rádio, habituados ao que se chamava então de "baba" ou "mela-cueca", se afeiçoassem justamente com o rockão "Casa de Rock". A gravadora não teve alternativa e lá estava o Casa das Máquinas, com seu afetadíssimo vocalista Simbas, banda pesada e vigorosa, indo onde nenhuma outro grupo, até então, jamais esteve. 

E, tudo isto, sem um milímetro de concessão. Ou nem tanto. A limpa Certo Sim, Seu Errado chama a atenção em um disco recheado de rocks sujos e caprichosamente mal gravados. Mas a gravadora não soube aproveitar e perdemos todos a oportunidade de termos um clássico do rock "balada" (embora a canção não seja exatamente romântica). 

Nestes tempos de revivalismo, com bandas pondo os anos setenta ao avesso, vale a pena ouvir "Casa de Rock", que, surpreendentemente, ainda está em catálogo em CD, só que ninguém sabe. A gravadora é a mesma Som Livre, o número de catálogo é 4006-2, peça para seu lojista preferido encomendar. Ou pegue o disco em mp3 naquele lugar, você sabe qual. Lá tem.

Em tempo: O Casa das Máquinas acabou em 1978, após o grupo ser acusado de envolvimento na morte de um cinegrafista da TV Record, pouco antes da gravação do que seria seu quarto lp. Outra: o grupo é o único brasileiro a ter um lp pirata, bootleg, gravado em um show ao vivo em 78. Fãs do The Darkness, dirvitam-se, esta é a melhor banda de rock nacional de todos os tempos. Pelo menos a formação que gravou "Casa de Rock".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Porque não existem filas preferenciais nos EUA.

Entrei em contato com um amigo norte-americano que morou por muitos anos no Brasil e o questionei sobre a razão de não haver filas preferenciais nas lojas norte-americanas. Ele me respondeu que não havia apenas uma mas várias razões. Uma delas é legal, porque é anticonstitucional. A enxutíssima constituição dos Estados Unidos simplesmente proíbe que determinado grupo social tenha algum direito específico sobre outro. Ou todos têm ou ninguém tem. Então, lhe questionei sobre as ações afirmativas na área de educação. Ele me respondeu que as ações afirmativas seriam constitucionais porque serviriam justamente para nivelar um grupo social em desigualdade aos outros. O que não seria, segindo ele, o caso de gestantes, idosos e deficientes físicos. A segunda razão seria lógica e até mesmo logística: Uma fila preferencial poderia ser mais lenta do que a fila normal e acabar transformando um pretenso benefício em desvantagem. Isto abriria espaço para ações judiciais no país das ações judic

Terra de Anões

Eu hoje estava ouvindo no meu smartphone, enquanto caminhava, aquela música dos Engenheiros do Hawaii chamada "Terra de Gigantes" em que um dos versos afirma que "a juventude era uma banda em uma propaganda de refrigerantes". Criticava-se a alienação dos jovens. E a maioria de nós éramos os jovens, por sinal. Mas o que tínhamos? Tínhamos internet? Tínhamos Google? Tínhamos acesso quase que instantâneo a toda a história da humanidade, a que passara e a que estávamos vivendo? Que culpa tínhamos de sermos alienados se não tínhamos a informação? Pois é, não tínhamos nada. E, ainda assim, éramos a banda na propaganda de refrigerantes. Como também disse o mesmo compositor, éramos o que poderíamos ser. Pelo menos, errados ou certos, éramos a banda. E hoje, com toda a informação em suas mãos, o que os jovens se tornaram? Se tornaram um bando em uma propaganda de refrigerantes. Gente que se deixa iludir por truques "nível fanta" em vez de tentar consumir

NOS TEMPOS DA BRILHANTINA.

      T em filme que envelhece bem, permanecendo um clássico muito tempo após ser lançado, ainda que seja, ao menos a princípio, datado. Um exemplo é o filme Blues Brothers ("Os Irmãos Cara-de-Pau").  Lançado para capitalizar o sucesso do quadro de Jim Belushi e Dan Akroyd no programa Saturday Night Live , a película acabou alcançando dimensões muito maiores do que a originalmente planejada, se tornando um sucesso mundial e provocando um renascimento (ou surgimento) do interesse pelo rhythm and blues e pela soul music entre os jovens e apreciadores de música em geral. O utros são tão oportunistas - ou aparentam ser - que, desde o lançamento, são considerados lixo,  trash-movies . Muito criticados no momento em que ganharam as telas dos cinemas, adquirem respeito e alguma condescendência com o passar dos anos. O exemplo ideal deste tipo de filme seria Saturday Night Fever , o nosso "Embalos de sábado à noite". Revisto hoje em dia, seu simplismo e aparênc