"I belong to the blank generation, and / I can take it or leave it each time, well / I belong to the ----- generation / I can take it or leave it each time"
Quem era adolescente no início da década de 80, ouvia rock e estava atento às novidades, sempre se defrontava com estes versos gritados nas inúmeras compilações do gênero punk/new wave que traziam a canção Blank Generation. Alguns estranhavam aquela faixa de andamento incomum, mas ninguém nunca ficava indiferente aos apelos de pertencer à "geração vazia" de Richard Hell. Muitos nem sequer imaginavam a verdadeira importância do artista para o movimento punk e ainda existiam outros que achavam que tudo começou em Londres com Malcom McLaren.
Quando retornou à Inglaterra em 76, depois de uma longa temporada em Nova Iorque, onde chegou a empresariar desastrosamente os New York Dolls, McLaren trouxe na bagagem a imagem de Hell para forjar uma nova estética para a música sonolenta praticada na ilha, à época. Não só os Sex Pistols originais se tornariam uma espécie de quatro clones de Richard Hell, como Sid Vicious era a reprodução perfeita - quase uma xerox - do artista nova-iorquino. Mesmo cabelo, mesmo modo de se vestir, mesmas atitudes irreverentes. Quanto à genialidade, é melhor mudar de assunto. No Brasil, seu maior clone foi o cantor Marcelo Nova, que, no início da carreira chegava até a imitar o corte de cabelo do Ricardo dos Infernos.
Richard Hell também foi o baixista da formação original de uma banda bastante cultuada atualmente, o Television. Saiu do grupo pouco antes da gravação do primeiro disco, por conta de problemas com Tom Verlaine (sempre ele...) que se recusava a tocar suas composições. Melhor para nós, que pudemos desfrutar dos dois em bandas completamente diferentes. Ou nem tanto.
Em seguida, Richard Hell foi chamado para integrar os Heartbreakers de Johnny Thunders, uma lenda-morta da cena nova-iorquina, recém saída dos New York Dolls. Não demorou muito por lá, pois, nas suas próprias palavras, o som dos Heartbreakers era "suave" e naive demais. Só então formou os Vodoids, com os quais gravaria dois dos discos mais importantes da história do punk rock, "Destiny Street" e "Blank Generation".
Em 1979, Hell estrelou um esquisitíssimo filme que leva o nome de seu maior "sucesso", onde fazia o papel de um rockstar ainda mais esquisito que ele mesmo. Sua interpretação é nada menos que hilária e o que salva o filme são as cenas absolutamente non-sense e as performances de seu personagem cantando suas músicas com a sua banda em pleno CBGB. E tudo filmado na época dos acontecimentos, em 1979, ou seja, história em estado bruto. Daí em diante resolveu que seria ator, chegando a fazer o papel de namorado de Madonna em "Desperately Seeking Susan". Não ganhou o Oscar.
A lenda continua viva...
Hoje, aos 64 anos, Mr. Richard Meyers é um respeitado poeta e escreve sobre música (ou não) para jornais americanos. Vegetariano, não fumante e abstêmio, Meyers é, ao contrário de Dee Dee Ramone Johnny Thunders, Stiv Bators, Jerry Nolan e tantos outros daquela cena, um sobrevivente da loucura que tomou conta da grande maçã em um tempo que a heroína era encontrada em fartas doses e vendidas por agentes disfarçados do FBI. Longa vida, porém, ao Ricardo dos Infernos, para que possamos sempre citá-lo como o maior herói de uma geração sem heróis.
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