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EDUCAÇÃO ARTÍSTICA - AC-DC, BANANARAMA E ELTON JOHN.

'74 JAILBREAK - AC/DC (1980) - As confusões e diferenças na discografia australiana do AC/DC e a dos discos lançados nos Estados Unidos e, consequentemente, no resto do mundo, só se comparam à dos Beatles no início da carreira. A lambança fez com que os três primeiros discos originais da banda virassem dois na terra de Tio Sam. O gênio que compilou os discos deixou cinco dos melhores rocks do grupo de fora dos álbuns e um pirateiro, sempre eles, não perdeu tempo e lançou nos EUA o primeiro (e único, acredito eu) EP pirata da história, o disco '74 Jailbreak.

Na real, as músicas foram excluídas por, segundo Ted Jensen, que remasterizou os discos australianos do AC/DC, "não apresentarem condições técnicas suficientes". Pode até ser que Jensen tenha razão. Mas, como deixar Jailbreak, a música, de fora? E a alucinante cover de "Baby, Please Don't Go", do Them? '74 Jailbreak vai para a galeria de discos que os piratas descobriram primeiro e as gravadoras comeram mosca, tentando diminuir o prejuízo, lançando a bolacha algum tempo depois.



DEEP SEA SKIVING - Bananarama (1983) - Os produtores ingleses sempre foram pródigos em inventar pequenas maravilhas do pop e as "armações" britânicas sempre tiveram mais charme que seus equivalentes norte-americanos. Em 1983 as rádios inglesas foram tomadas de assalto por uma música estranhíssima e irresistível: uma disco-music com fortes cores punk/new wave, cantada em Iorubá, língua tribal africana, chamada "Aie-a-Mwana". 

Produzida pelo ex-baterista dos Sex Pistols, que, inclusive, tocou na faixa, a música chamou logo a atenção do público e crítica para o trio de ex-backing vocals descobertas pelo produtor Steve Jolley. Lançaram mais um single com a regravação de "Na Na Hey Hey Kiss Him Goodbye", do grupo sessentista Steam. Depois de "Really Saying Something", uma curiosa canção aonde o trio pede que seja levado a sério, alcançaram sucesso mundial e, finalmente, com a ajuda de Paul Weller, do jam e do Style Council, lançaram um álbum cheio de pérolas pop, bem ao gosto da música daquela época. Soltaram ainda mais quatro álbuns, nenhum com o mesmo brilho, a mesma qualidade, e, é claro, com o cheiro de novidade deste primeiro disco.



HONKY CHATEAU - Elton John (1972) - Excelente pianista, Elton John, assim como Eric Clapton, era, antes da fama, um requisitado músico de estúdio. Quando finalmente optou por uma carreira, no final dos anos 60, obteve o respaldo dos colegas de profissão, o que lhe deu suporte para lançar álbuns de excelente qualidade, que eram muito mais que as simples trilhas sonoras para amantes e princesas mortas em que a música de Reginald viria a se transformar futuramente.

Honky Chateau, o seu multi-platinado disco de 1972, é um bom exemplo. Registra a fase áurea do cantor/pianista, onde Elton era sucesso de público e crítica. Adorado pelos roqueiros, adotou uma imagem que ficou conhecida como "overglam", ou "excesso de glamour". Óculos espalhafatosos e fantasias purpurizadas realçavam (ou escondiam) a sua intensa criatividade, fazendo com que este fosse nada menos que o seu sétimo trabalho lançado em três anos.

Apesar da intimidade que desfrutava com os roqueiros, este disco não é exatamente um disco de rock. Muito bluesy, Honky Chateau até contém uma grande faixa do estilo, a vibrante Hercules que fecha o disco. Elton John passeia entre excelentes baladas agridoces e levadas de boogie woogie desaceleradas servindo como cama para excelentes composições. É deste disco a obra-prima Rocket Man.

Da próxima vez que você ouvir um elogio a um disco antigo de Elton John feito principalmente por alguém com idade, hoje, na faixa dos 55 anos, não ache que o coroa quer apenas tirar uma com a sua cara, ou o tiozinho não entende nada de rock. Os discos de Reginald até 1976 costumam mesmo ser realmente muito bons. É ouvir pra crer.

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